Aphrodite ainda analisava as notas do pai quando o ecrã começou a piscar e a sua música foi interrompida pelo som de um alarme irritante.
“Sem alarme sonoro, Jarvis! Quantas vezes tenho que dizer? Começa a música de novo.”, Ordenou enquanto se aproximava da mesa dos hologramas e mandou abrir o ficheiro em alerta. “Eu tenho mesmo que conseguir uma oficina melhor…”, Suspirou, ao aperceber-se de que tinha que dar uns dez passos para aceder a ficheiros externos ao projecto em que estivesse a trabalhar enquanto ao pai bastava-lhe rodar a cadeira. “Jarvis. Lembra-me de remodelar o escritório… hum… No próximo fim-de-semana…”
“Já está agendado, menina.”
“Obrigado.” Mais um gole no uísque de Tony e levantou o olhar para ler o ficheiro. “Pára a música, Jarvis.”, Ordenou. Jarvis obedeceu, e acordou Tony.
Das poucas vezes que Aphrodite mandara a música parar, algo próximo do Apocalipse estava prestes a acontecer, o que levou Tony a programar Jarvis para o informar sempre que a filha repetisse a ordem, mesmo que recebesse ordens para não o incomodar minutos antes.
Aphrodite bebeu tudo o que restava da sua bebida num gole só e sentou-se. O som do copo a pousar na mesa foi acompanhado do das portas do elevador a abrirem-se. E Tony entrou na oficina a toda a velocidade, ainda de pijama.
“Que se passa?”, Perguntou.
“Pai! Não devias estar a dormir?”, Assustou-se.
“Mandaste parar a música… Que se passa?”
“Jarvis. Dá-me o ficheiro da Constance, por favor.”
“Wow! Pôs-te a pedir por favor! Deve ser mais grave do que o que pensei.”
“Não estou com paciência para as tuas piadinhas.”
“Que se passa?”
“Bem…”, Começou, ao levantar-se lentamente e dirigir-se para a mesa onde tinha o ficheiro em questão. Então, abriu uma enorme foto de uma senhora. “Esta é a Constance. Tem 59 anos e foi dada como desaparecida quando eu te estava a ajudar…”
“É a mãe do Jared?”
“Sim, e de mais dois.”, Continuou, enquanto abriu fotos dos três. “O meu problema está aí…”, Explicou, fechando a terceira fotografia e aumentando as duas de interesse. “Apresento-te Shannon e Jared, os meus meninos.”
“Meninos?! Eles são quarentões!”
“Também tu és e isso nunca te impediu de trazeres miúdas pouco mais velhas do que o que eu estou agora cá para casa.”
“Basicamente, estás a namorar irmãos e a mãe deles desapareceu?”
“Sim…”, Murmurou, e um novo alerta surgiu.
“Espera. Como é que tu não sabias que eles são irmãos?”
“Nunca lhes perguntei o apelido, e nunca quis saber a história familiar. Já me bastava ter o peso de andar com dois, não ia querer as mamãs a pedir netinhos e casamentos. Tenho mais com que me preocupar. Jarvis, abre os alertas todos, já vou ver isso…”
“Queres fazer uma pausa? Eu posso adiantar-te algum trabalho enquanto descansas…”
“Descanso não consta no nosso dicionário, lembras-te?”, Sorriu. “Eu estou bem…”, Murmurou, voltando-se para o painel, novamente. “Jarvis, liga ao Jared, por favor…”
“Com certeza, menina.”
“Obrigado.”
“Que vais fazer?”
“Amor…?”
“Bom dia, Jay… Acordei-te?”
“Um bocadinho… Há notícias da minha mãe?”
“Achas que dá para passares cá por casa?”
“Claro… Dá-me uma hora…”
“Estamos a falar da tua mãe que desapareceu. Tens a certeza que não consegues vir em menos tempo?”
“Vou fazer os possíveis.”
“Até já.”
“Amo-te.”
“Ligação terminada.”, Jarvis anunciou.
“Eu ia responder!”
“Não fui eu que me auto-programei para terminar chamadas com determinadas palavras-chave.”
Aphie suspirou, e foi voltar a encher o seu copo.
“Tens algum palpite…?”
“Sim.”
“E…?”
“É essa a minha resposta.”
“Não queres mesmo a minha ajuda?”
“Estás assim tão curioso?”
“A minha armadura é sucata, não me importava nada de ter uma distracção…”
“És sempre o mesmo…”, Suspirou e começou a reorganizar todas as informações no seu painel. “Já percebeste…?”
“Achas que é uma armadilha?”
“Tenho a certeza… Quem quer que te atacou hoje apenas o fez para nos distrair. Ela desapareceu nessa altura e… Esta pessoa sabe com certeza que eu iria atrás dela. E se eu vou, tu vens junto… Não bastava saberem as tuas fraquezas, também sabem as minhas…”
“Quem poderá ser?”
“Digo-te mais logo. Tu não te vais meter nisto. É a ti que eles querem e eu não estou disposta a oferecer-te de bandeja.”
“Tenho que te proteger…”
“Segues-me nisto e eu juro que serei a primeira a atacar-te. Garanto que te deixo a armadura em cinzas. Eu não vou permitir que te metas numa missão suicida. Está fora de questão.”
“Filha…”
“Tenho dito!”
“Sabes que não vai adiantar de nada…”
“Testa-me.”
“Aphie…”
“Sai.”
“Não.”
“Vou ter que te obrigar?”
“Vais.”
“Jarvis! Põe Celine Dion a passar!”
“Nem penses que me vais fazer isso!”
“Mudei de ideias. Jarvis?”
“Sim, menina?”
“Lady Gaga.”
“Com certeza.”
Bad Romance começou a tocar e Anthony retirou-se.
“Já podes parar, Jarvis… Chega de tortura. Dá-me AC/DC, por favor… Tenho que trabalhar.”
“Considere-o feito, menina.”